Acabamos de acompanhar, na China, um imenso Congresso de Mulherologia. Discutiram, brigaram, mas acabaram produzindo um belo documento resolutivo. A gente fica com esperança de que isso venha a melhorar a situação das mulheres do mundo inteiro a longo prazo.
Mais importante, entretanto, do que essas resoluções congressuais, é a vitória da emenda proposta no Senado por todas as senadoras, encabeçadas pela senadora Júnia Marise. E que o Senado aprovou. É nada menos que a obrigatoriedade de que nas listas de candidatos de todos os partidos para a próxima eleição de vereadores sejam reservadas 20% das vagas às mulheres.
Um quinto dos vereadores dos 5 mil municípios brasileiros já é uma beleza. Espero, porém, que o Congresso estenda essa garantia mínima de presença feminina nas eleições para as Assembleias Legislativas e para o Congresso Nacional.
Estou certo de que essa ponderável presença feminina vai melhorar muito a atividade legislativa, emprestando esse sentimento de realidade, de responsabilidade moral e de preocupação social que é tão característico das mulheres. Uma vez escrevi meio de pilhéria que a democracia só se alcançará em eleições fiftty-to-fiftty, metade homens, metade mulheres. Queria também o rodíziono Poder Executivo e no Judiciário. A um presidente macho sucederia uma presidenta fêmea.
Não imaginava, então, que isso pudesse concretizar-se, como acaba de ocorrer com a emenda da Júnia Marise, numa proporção que não é ainda o que eu queria, mas já é formidável.
É sabido que gosto muito das mulheres. O que muitos ignoram é que também as admiro e as respeito. Nos tantos postos que exerci ao longo da vida, trabalhei quase só com mulheres. Elas são mais inteligentes, mais dedicadas ao trabalho, mais fiéis e mais honestas. São, além disso, mais bonitas e mais cheirosas. Vocês não concordam?
1) Os defeitos que as mulheres têm e que são as suas maiores virtudes podem ser assim resumidos:
2) O de engravidarem e parirem. O que antigamente atrapalhava muito o trabalho. Hoje, porém, gravidez e menstruação já não são problemas;
E se casarem com uns maridos chatos e mandões que às vezes incomodam muito a gente. Para esse problema, eu ainda não achei a solução. Se você tiver alguma sugestão, me escreva pro Senado.
16 de outubro de 1995
Este artigo foi publicado na coluna de Darcy Ribeiro no jornal Folha de São Paulo em 16 de outubro de 1995.