Homenagem à antropóloga traz à tona a questão da presença feminina nas Ciências Sociais
por Erika Suzuki – /Secom UnB
Aconteceu na tarde de quinta-feira (29) no auditório do Memorial Darcy Ribeiro, o painel 100 anos de Berta Ribeiro. Com mediação de Gisele Jacon, Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Emília Ulhôa Botelho e Bianca França falaram sobre a vida e obra da antropóloga. A atividade faz parte do seminário Mulheres na ciência e 100 anos de Berta Ribeiro realizado pela Secretaria de Comunicação da UnB em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro.
A vice-presidente da Fundação Darcy Ribeiro, Gisele Jacon, abriu o painel com uma breve apresentação das convidadas e da vida de Berta. “Berta era romena e o pai dela veio para o Brasil fugindo da perseguição aos judeus no leste europeu. A mãe se suicidou nesse período. Berta não tinha dez anos quando chegou ao Brasil”, contou. “Nas manifestações do partido comunista, ela conheceu Darcy Ribeiro e acabou se casando com ele depois.” Gisele destacou o compromisso de Berta com as populações indígenas, com a pesquisa e sua produção intelectual. “Era uma mulher que parecia muito frágil, com uma vida um tanto difícil, mas que se engaja nessa carreira antropológica com muito amor e muita garra.”
“Berta se naturalizou brasileira e se dizia mineira de coração, não só pelo casamento, mas pela acolhida que a família de Darcy deu, e Desana [em referência ao povo indígena Desano, localizado no nordeste amazônico], por opção”, disse Elizabeth Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, diretora técnica da Fundação Darcy Ribeiro e uma das organizadoras do seminário. Elizabeth chefiou o serviço de documentação, indigenismo e etno-história do Museu do Índio, onde também ajudou a organizar o centro de documentação etnológica. Colaborou com Berta em seus últimos anos de vida.
Da esquerda para a direita: Elizabeth Monteiro, Emília Botelho, Bianca França e Gisele Jacon. Foto: Marina Leal/Secom UnB
O painel traz à tona a questão da presença feminina na antropologia a partir da segunda metade do século 20. “Apesar da participação de mulheres na construção do pensamento científico, uma invisibilidade insiste em repousar sobre a trajetória, a produção e o registro desses trabalhos. Entendo que Berta, de alguma forma, não foge a essa condição, tendo sido reconhecida com frequência como braço auxiliar de Darcy Ribeiro, com quem foi casada durante três décadas”, destacou Elizabeth, que enfatizou também aspectos da obra da antropóloga, como o conhecimento que reuniu sobre arte e cultura material indígena e sustentabilidade, convívio com o meio ambiente e respeito pela natureza.
A antropóloga, mestre em História e analista-perita em antropologia aposentada do Ministério Público da União (MPU) Emília Botelho falou um pouco sobre sua dissertação acerca de Berta desenvolvida há 20 anos. “É a primeira homenagem a Berta de que participo”, disse. “Foi o encontro temático do meu trabalho em políticas públicas e meio ambiente que delineou circunstâncias pelas quais cheguei em Berta Ribeiro”, lembra. A dissertação de Emília, apresentada em 2005 no Programa de Pós-Graduação em História da UnB, Berta Gleizer Ribeiro (1924-1997): afinidade e autonomia abordava aspectos da produção intelectual de Berta, conhecida como especialista em cultura material indígena.
Já a historiadora e doutora em História, Política e Bens Culturais Bianca França falou sobre o trabalho de divulgação científica de Berta voltado para um público amplo. “Berta reuniu os conhecimentos mais avançados da época sobre floresta tropical, organizou exposições, publicou livros e artigos nos quais ela consegue mostrar para o público maior, não só o científico, mas também para as massas. Ela escrevia para as crianças na revista Ciência Hoje, fez material básico inclusive para animações e, através desses muitos estudos que fez, ela conseguiu mostrar que toda a atividade indígena está impregnada de senso estético e político. O indígena é um ator político no nosso país”, citou.
Após o debate, foram exibidos o curta de animação Gaín Pañan e a origem da pupunheira, de Luiz Fernando Perazzo, e o documentário Para Berta, com amor!, de Bianca França. No mesmo dia, Adélia Miglievich, Márcia Mura, Regina Abreu e Mariana Moraes participaram do painel Mulheres no campo e no laboratório, mediado por Braulina Baniwa. Conferência da diretora de Proteção de Direitos do Ministério das Mulheres, Pagu Rodrigues, marcou a abertura na noite de quarta-feira (28).
Fonte: https://noticias.unb.br/pesquisas-estudos-e-projetos/7510-cem-anos-de-berta-ribeiro