Antropólogo

Darcy Ribeiro graduou-se em Etnologia pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo em 1944 e as contribuições do sociólogo Donald Pierson e do antropólogo alemão Herbert Baldus foram importantes para sua formação intelectual. Darcy foi também fortemente inspirado pelo espírito humanitário e pelo respeito aos povos indígenas de Cândido Mariano da Silva Rondon que o indicou para o cargo de etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, onde realizou pesquisas de campo junto a diversos grupos indígenas, a exemplo dos Bororo, Xokleng, Kaiowá, Terena, Ofaié, Guarani e, principalmente, os Kadiwéu e os Urubu Kaapor. Alguns dessas pesquisas geraram trabalhos reconhecidos como Religião e Mitologia Kadiwéu (1950), vencedor do Prêmio Fábio Prado de Ensaios e Arte Plumária dos Índios Kaapor, escrito em parceria com sua esposa, a antropóloga Berta G. Ribeiro.

Darcy com pintura Kadiwéu, Mato Grosso do Sul, 1947
Darcy entre os Urubu-Kaapor, Maranhão, 1949

Ainda no SPI, na chefia da Seção de Estudos, Darcy concebeu o Museu do Índio, inaugurado em 1953 no Rio de Janeiro e reconhecido pela Unesco -Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – como o primeiro no mundo contra o preconceito e com o objetivo de difundir a cultura indígena e promover o respeito aos povos indígenas. É também no Museu do Índio que Darcy Ribeiro, juntamente com o antropólogo Eduardo Galvão, organizou o primeiro Curso de Pós-Graduação em Antropologia Cultural.

Tornou-se professor de Etnologia na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, cargo para o qual é reconduzido, após a anistia, em 1979, na condição de professor titular.

A criação do Parque Indígena do Xingu, em 1961, representou um marco do indigenismo, estabelecendo novos parâmetros de reconhecimento e regularização de terras indígenas. Concebido pelos antropólogos Darcy Ribeiro e Eduardo Galvão e pelos sertanistas Villas-Boas, ainda na década de 1950, todos imbuídos de uma visão rondoniana, o Parque do Xingu constituiu-se num novo modelo para a demarcação de terras indígenas, ao considerar a intrínseca relação dos índios com os ambientes naturais que habitavam, em uma concepção simbiótica da necessidade de preservar uma extensa área de natureza como forma de garantir a sobrevivência desses povos e a perpetuação de suas culturas.

A obra de Darcy Ribeiro no campo da Antropologia é vasta, com edições no Brasil e no exterior. No exílio, após o golpe de 1964, Darcy Ribeiro escreveu a coleção Estudos de Antropologia da Civilização composta cinco livros: Processo Civilizatório (1968), As Américas e a Civilização, Os índios e a civilização, Dilema da América Latina e Os BrasileirosTeoria do Brasil. Essa coleção só foi concluída, ao final de sua vida, com O Povo Brasileiro, na qual Darcy consolida suas reflexões sobre a formação e a realidade do país.

Sua experiência e encantamento com os povos indígenas ficaram presentes ao longo de sua vida marcando, direta ou indiretamente, seus fazimentos.

Visita dos integrantes do 1º Seminário Latino-americano de Ciências Sociais ao Museu do Índio. Rio de janeiro, 9/12/1955. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_08066_d000

“O melhor professor que tive foi Herbert Baldus, poeta prussiano e etnólogo apaixonado de nossos índios. Frequentei por três anos seu seminário pós-graduado de etnologia brasileira (…) Aprendi muito com Baldus. Aprendi sobretudo a fazer meu, seu ideal científico de estudar a natureza humana pela observação dos modos de ser, de viver e de pensar os índios do Brasil”

Darcy Ribeiro, in Confissões