BERTA GLEISER RIBEIRO

Berta nasceu a 2 de outubro de 1924 em Beltz, Romênia em uma família judia. Em princípios da década de 1930, o pai Motel, acompanhado das duas filhas, Jenny e Berta (a caçula), veio para o Brasil, estabelecendo-se como comerciante no Rio de Janeiro. Contudo, aos 11 anos Berta ficou sozinha, tendo sua irmã e seu pai, por motivos políticos, voltado para a Europa.

Casou-se em 1948 com Darcy Ribeiro, com quem fez suas primeiras viagens aos Kaingang no sul; aos Kadiweu e Terena no Mato Grosso. No alto e médio rio Xingu esteve entre os Yawalapiti, os Kayabi, os Juruna, os Araweté e os Asurini. Essa experiência, assim como as relações pessoais com os índios xinguanos, Berta recuperou no livro “Diário do Xingu”. As pesquisas de campo continuaram entre os Tukano Desâna na região do alto Rio Negro. Nas aldeias do rio Tiquié trabalhou por longos anos com Luis Lana e seu pai Firmiano Lana, apoiando suas iniciativas de redação e ilustração de mitos, que deram origem ao livro Antes o Mundo Não Existia. A mitologia heroica dos índios Desâna. Os índios das Águas Pretas, publicado em 1995, aborda temas relacionados à ecologia e cultura material, centrais em seu trabalho.

Berta e Darcy no Uruguai, década 1960
Berta entre os Kadiwéu, 1948

Um dos campos desbravados por Berta reside na elaboração de instrumentos para os estudos de cultura material. Bases para uma Classificação dos Adornos Plumários dos Indios do Brasil (1957), os volumes da Suma Etnológica Brasileira e o Dicionário do Artesanato Indígena constituem bases metodológicase classificatórias indispensáveis nas pesquisas de cultura material e na documentação etnomuseológica dos acervos etnográficos.

Em 1980, obteve o doutorado em Antropologia Social pela Faculdade de Filosofia, Letras Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com sua tese de doutorado intitulada A Civilização da Palha, que representa um dos mais completos estudos da cestaria indígena, alto xinguana e alto rionegrina, abordando aspectos tecnológicos, produtivos e estéticos dessas artes.

Foi servidora do Museu Nacional e Museu do índio, onde atuou como pesquisadora e como formadora de coleções etnográficas. A constituição de acervos de bens materiais dos grupos indígenas que estudava constituía um de seus interesses capitais. Paralelamente, empenhou-se na promoção e publicação de estudos museológicos. Como professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ministrou aulas no curso de Pós-Graduação em História da Arte, nas disciplinas de “Arte indígena no Brasil” e “Cultura material e arte étnica”, e orientou alunos nos temas de sua especialidade.

A familiaridade na leitura e classificação de objetos levou Berta a enveredar pelos caminhos pouco trilhados da antropologia da arte no livro Arte Indígena, Linguagem Visual, publicado em 1989. Este livro constituiu-se na sua mais complexa abordagem dos “conteúdos e significados das manifestações estéticas do índio brasileiro, através da análise de casos concretos”.

Os caminhos percorridos por Berta Ribeiro sempre foram amplos porque vastos eram os seus interesses: antropologia, ecologia, museologia, arte e sua principal especialidade, a cultura material indígena. O compromisso e rigor com a produção de conhecimento renderam-lhe, em 1995, a medalha de Comendadora da Ordem do Mérito Científico, conferida pelo governo brasileiro.

Berta faleceu em 17 de novembro de 1997.

Berta no Parque do Xingu, década 1980